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Diz a lenda – O trem não vai passar

Por: Beto Ramos


Mangueira deixando com suas frutas um perfume pelo ar.
Na sua sombra as crianças observam o trem passar.
Vai o trem.
Segue a toda velocidade.
Leva menino e menina.
Os velhinhos vão de mãos unidas.
Da Máquina Cinquenta não estamos vendo o futuro.
O rio seguindo em silêncio.
O trem a todo o vapor.
Vai à busca da sua história.
O trem não pode descarrilar nos trilhos do esquecimento.
Vai o trem viajando dentro dos nossos corações.
Vai cheio de pélas de borracha.
Tem saco de farinha.
Mulher levando beiju.
No cemitério da Candelária ao ouvir o barulho do trem, todos os mortos diante do esquecimento se levantam em respeito ao sonho sem realidade.
Segue o trem.
Vai a lugar algum.
Nos seus armazéns serviram comida.
Mas, o povo possui a fome pelo resgate da história.
Não queiram reescrever um conto pela metade.
O trem vai sem os seus trilhos.
Todos os dias as crianças ficam a sombra da mangueira esperando o trem passar.
Segue sem maquinista.
A rotunda está quase esquecida.
Existe cerca pra todo o lado.
Vai o trem como diz o Misteira: “Da Candelária eu vi o trem, dá Candelária eu vi o trem passar”.
Mas, o trem não vai passar.
Por enquanto fica só a beleza da mangueira.
Vai ficando somente na lembrança “Como era gostoso o balanço do trem, quando eu viajava junto com meu bem...”.
É Sílvio hoje tudo é apenas saudade e melodia.
Vai à máquina sem saber o tamanho das bitolas dos trilhos.
A locomotiva Barão do Rio Branco fica em silêncio.
Quase não existe o vapor d’água.
A caldeira vai ficando sem combustão.
Porto Velho, Santo Antônio, Zingamoche, Teotônio, Pedracanga, São Carlos, Quilômetro 54, Lusitânia, Quilômetro 75, Caracol, Jacy-Paraná, Quilômetro 104, Caldeirão, Quilômetro 115, Girau, Quilômetro 143 – 149 – 154, Três Irmãos, Quilômetro 165, Mutum-Paraná, Quilômetro 176 – 187 – 195 – 202 – 206, Abunã, Penha Colorado, Taquaras, Araras, Periquitos, Quilômetro 278, Chocolatal, Ribeirão, Misericórdia, Madeira, Vila Murtinho, Lages, Pau grande, Yata, Núcleo Agrícola, Bananeiras, Guajará-Mirim.
Todos estes pontos estão com uma mangueira cheia de crianças em sua sombra, esperando algum dia o trem chegar.
Alguém viu o kalamazoo.
Apenas em uma foto.
Alguém espera o trem na estação de Guajará–Mirim.
Uma espera sem fim.
Na Casa Seis alguém desejou ouvir comentários que o trem um dia vai partir.
Silêncio.
Tudo mudou.
Alguém chorou ao ver as sucatas dos vagões na beira da estrada.
Vai o trem.
A toda velocidade.
Apenas na nossa lembrança.
Gostaria de comprar uma passagem.
Na antiga estação existe Associação, Secretaria e Fundação.
O menino saiu correndo da sombra da mangueira.
- Mãe, o trem, o trem, alguém disse que o trem não vai passar!
- Menino, isto é coisa de museu!
- Poxa mãe, eu queria tanto ver o trem passar!
- Vai passar meu filho, um dia vai passar e o trem voltará a apitar.
- Acorde meu filho é hora de ir à escola!

Diz a lenda

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