Então... Durante uma década pescávamos eu meu avô no barranco ali na descida do Caravela do Madeira Eram quartas feiras onde nos vestíamos de sol Com os acessórios de linha e anzóis Vô Aluízio fazia iscas feitas de alegria Muito sorriso e a alma cheia de igapó Muitas vezes pescávamos um monte caicos Mandis Barbas chatas Vez por outra mulher ingrata Numa bela quarta feira Vovô Aluízio desapareceu do barranco para sempre Foi fazer sua última pescaria no lindo lago do andar de cima Tenho tanta saudade dos nossos silêncios Dos planos se pegássemos um Jaú maceta Esses dias vou pescar Nunca mais vai ser Como a descida do barranco Perto do Caravela do Madeia Beto Ramos de Oliveira 21/10/22
Então... Dia de despertar Resolvi me vestir de passarinho que ficou muito tempo preso na gaiola do coração Logo eu que por tanto tempo ficou sem palavras e aprisionado na solidão Fechando os olhos voei do precipício do ócio e abri as asas da liberdade meio as mangueiras biribazeiros pupunheiras e buritizeiros Com voos rasantes percebi que o céu azul cantado por poetas estava enegrecido Gaiolas de fumaça no horizonte manchavam o nosso céu azul Vai pássaro bobo te mete a voar nesse céu de baladeira que desconhece a grandeza das asas do futuro Voltei pro nosso quintal que tem cidreira mamoeiros cajarana e uma laranjeira que está me olhando com cara de limoeiro Parece que está falando “TELÉSÉ?” Beto Ramos de Oliveira 20/10/22