Pular para o conteúdo principal

Diz a lenda - Águas barrentas

Por: Beto Ramos



Um mergulho em águas barrentas.
Águas turvas que trazem em seus banzeiros os medos de quem são os que não mergulham em teu silêncio.
No barranco fica a lágrima do caboclo, que escorre junto ao barro.
Águas barrentas com o rebojo de vaidades.
Coisas que afloram diante da poesia.
As águas barrentas possuem seus mistérios.
Mas, não são tristes.
A tristeza existe no que se esconde na alma dos que olham e falam com o medo das tuas correntezas.
Mergulhei em águas barrentas.
Sempre sobrevivi por saber compreender os mistérios dos banzeiros e dos rebojos.
O caboclo vai continuar de cócoras ou acocado, para ver onde a lágrima vai chegar.
As águas barrentas possuem mais belezas que a alma de alguns.
Navegar em águas barrentas não é mergulhar em águas barrentas.
Os que navegam apenas dizem o que querem sobre os teus mistérios.
Os que mergulham sabem os teus mistérios.
Águas como poesia.
O estranho é que as águas barrentas possuem menos mistérios que a alma de alguns.
O caboclo fica em silêncio.
Os que navegam falam o que querem.
Duvido muito se possuem a coragem de mergulharem para desvendar os teus mistérios.
O caboclo prefere ficar chorando no barranco.
Águas barrentas são mais belas que as palavras em horas incertas vindas da alma de poucos.
O medo é descobrir realmente a verdade da alma de alguns.
Mergulhei em águas barrentas. Hoje, descobri que a poesia de muitos ao parecerem águas cristalinas, jamais se misturariam com águas barrentas.
Cristalinas somente as lágrimas do caboclo que em silêncio compreende os segredos de tuas correntezas, banzeiros e rebojos.
Banhar-se em águas barrentas possui menos perigo que ouvir o que parece cristalino, mas que jamais compreendera a força que possuem as palavras.
O caboclo precisa de solidão.
A companhia de quem não compreende para crescer, sempre vai toldar as águas de quem acredita navegar sempre em águas cristalinas.
A tristeza vem nas lágrimas do caboclo por não ter acreditado em ver o óbvio que sempre existiu a sua frente.
Onde ficam as águas barrentas?
Distante de quem acha que somente mergulha em águas cristalinas!


Diz a lenda

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CABARÉ DA ANGELA MARQUES - "PEGA FOGO CABARÉ!"

NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO

O narcisismo é um conceito psicanalítico criado por Sigmund Freud, que adotou o termo a partir do mito grego de Narciso. A origem da palavra Narciso,do grego Narkissos, vem de narkes, que significa entorpecimento, torpor, inconsciência. A palavra narcótica é derivada e indica qualquer substância que produza alteração dos sentidos, gerando narcose. Faz-se correlação ao termo, também com a flor denominada narciso, bela e solitária, que nasce na beira dos rios, cuja existência é frágil e efêmera. O narcisismo, cujo nome Freud tomou de empréstimo ao mito grego de Narciso, o jovem que enamorou-se de sua própria imagem espelhada na superfície de um lago, ficou associado, em nossa cultura, à idéia de vaidade que seria, dentre os sete pecados capitais, o mais grave, pois todos os outros derivariam deste. Conforme o mito explicita, a idéia de narcisismo está vinculada à questão da imagem e esta, por sua vez, à noção de identidade. A imagem corporal é o primeiro esboço sobr...

Palavras sem sentido algum!

Sou de um mundo onde os normais jamais se ajustariam. Sou das palavras do futuro, do amanhã sem motivos, mas, do hoje com razões para fazer o amanhã. Vivo um mundo construído por teias de aranha. Um abrigo para mim mesmo... Minha poesia soaria estranha aos inconformados que atendem a tudo e a todos os gostos. Sou de palavras estranhas, cheias de erros, coisa feita de proposito para satisfazer a inteligencia da escuridão da noite. A noite é um perigo para quem vive sempre na luz. Sou de lágrimas sem rimas, sem gritos, sem voz. Os caminhos que percorro são meus... ao dividir com pessoas, poderia infectá-las com um certo bom senso. Correndo para cá e para lá, os normais se encontram, se estranham, se mordem. Parado e em silêncio vejo a banda passar, olho nos olhos da noite e percebo que ela possui alma. Mas, minha alma é pagã. Sou filho da noite, sou filho do vento, sou filho da lua, sou filho do silêncio. Sou de um mundo sem ruas com asfalto, sem prédios com seus andares. Sou de um mundo...