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Diz a lenda - Povo

Por: Beto Ramos

Eu vi você sair triste por ai.
Não se sentou à mesa de um bar.
Foi na Madeira Mamoré, e viu as frias construções de concreto que invadiram nossas retinas.
A curva do rio ficou estranha.
Já não podemos esperar a época da pesca.
Eu vi você sair por ai.
Olhos perdidos.
Agora olhando para cima.
São prédios que não possuem quintais.
São cheios de segurança.
A cada dia colocam abaixo um pedaço da nossa história.
O pouco que resta, ainda é motivo de disputas que te fazem ficar mais triste.
Ainda existem as castanholas.
Mas, até quando?
Ali perto da Ladeira Comendador Ceteno, o moderno asfalto soltou-se da rua, e deixou aparecer às pedras de antigamente.
Fique bem claro que não são pedras no sapato de quem cuida de nossa história.
Eu vi você sair triste por ai.
Triste por não se contentar com migalhas que desejam deixar para a história do nosso povo.
O poeta cantou: Da Candelária eu vi o trem passar.
Sabe poeta vamos todos esperar, e o trem não vai passar.
O trilho está suspenso no ar.
Vazio como as promessas dos santos do pau oco.
Cuidado com sua tristeza, pois ela precisa possuir certa postura.
Talvez o desejo de alguns seja mandar até na nossa tristeza.
E jogam migalhas para os pombos brancos da paz.
As aves de rapina continuam com seus discursos bonitos.
Entrincheiradas na luta sem inimigos.
Discursos sempre na primeira pessoa.
Cheios de reuniões para defenderem os seus interesses.
Os interesses de um povo não possuem uma só cor.
No céu de um povo não existe uma só estrela.
As pedras no caminho trazem certa paz.
Elas são uns retratos em preto e branco do que não voltará mais.
Eu te vi sair por ai.
Completamente em silêncio.
Sem texto.
Mas, com o desejo de mudanças.
Eu te vi sair por ai meu povo.
Muitas vezes encarnado de vergonha.
Começando a sair algo irá mudar.
Quem sabe não mude o discurso na primeira pessoa!

Diz a lenda

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