Vi o barranco desmoronando, sendo levado pelas lágrimas do Rio Madeira.
Vi nas lágrimas barrentas a alegria e a tristeza de minha gente.
Toras de madeiras descendo meio às lágrimas, parecendo pedaços de todos nós, meio aos soluços vindos juntos do vento.
Dentro de uma canoa no frio da manhã, o velho beradeiro com o rosto cheio das marcas do tempo jogava sua linha para saciar sua fome que é a fome de todos nós.
O barranco desmoronando, o rio engolindo os nossos distritos, histórias de nossas almas que choram sozinhas esquecidas afogando-se nas lágrimas do rio caudaloso.
Acho que vou chorar.
Não, lavei o meu rosto nas lágrimas do nosso Rio Madeira.
A tristeza do rio é seguir o seu rumo que não mereceria ser modificado pelo monstro do progresso.
E os beradeiros como eu, ficam na margem olhando o barco passar.
São crianças, mulheres e homens que sorriem.
Eles sabem das lágrimas do rio.
O rio não chora sozinho.
O poeta chora sozinho.
O barranco vai dando adeus e se desfaz meio as lágrimas barrentas com muita madeira.
Dentro de mim corre um outro rio.
Um rio de palavras.
Um rio que busca levar para o mundo o orgulho do nosso povo beradeiro.
Vi o barranco desmoronando.
O rio vai continuar chorando.
O povo continua sorrindo nas suas margens.
Diz a lenda
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